A imagem idealizada de amor e proteção incondicional de mãe, embora enraizada na sociedade, não corresponde à realidade de diversas pessoas — especialmente para quem convive com uma mãe com transtorno de personalidade narcisista. O problema também é conhecido como narcisismo materno patológico.

O termo narcisismo faz referência ao mito de Narciso, personagem da mitologia grega que representa a vaidade e a insensibilidade. Segundo o mito, Narciso era um rapaz belo e jovem que, ao deparar-se com seu próprio reflexo durante uma caminhada, se apaixonou pela própria beleza. Obcecado pela imagem refletida na água, ele se recusou a deixar o local, morrendo às margens do rio.

Uma mãe narcisista apresenta traços de egocentrismo e grandiosidade, acreditando ser superior aos demais e necessitando de atenção e bajulação — levando à negligência ou ao destrato dos filhos. Como consequência, o comportamento gerado pelo transtorno causa traumas e prejudica a saúde mental dos filhos, mesmo enquanto eles ainda são muito pequenos.

Como identificar uma mãe narcisista?

O Transtorno de Personalidade Narcisista é classificado por padrões de grandiosidade. No caso do narcisismo materno, o perfil cognitivo e comportamental da mulher é bastante característico. Os principais sinais a serem observados incluem:  

• Abusiva: a mãe narcisista, por acreditar que é superior, dita e cria as próprias regras, utilizando de sua posição de poder, isto é, de mãe. O abuso pode ocorrer de forma física, verbal e principalmente psicológica; 
• Compara o filho com outros jovens: segundo Mônica, um sinal característico do narcisismo materno é quando a mãe faz comparações do filho, afetando a autoestima; 
• Chantagista: Monica acrescenta que a mãe narcisista tende a realizar chantagens emocionais para fazer com que os filhos atendam às suas vontades; 
• Dona da verdade: uma mãe narcisista sempre tem razão em tudo que alega a respeito de si mesma, dos outros e do mundo que defende. Discutir com ela pode ser uma tarefa difícil, pois, mesmo quando expressa ideias incoerentes, ela não permite que suas afirmações sejam contestadas. Por não admitir culpa nem responsabilidade, atribui o erro ao outro — na maioria das vezes, ao próprio filho; 
• É invejosa: outra caraterística marcante da mãe narcisista é que, como ela está sempre se comparando com os outros para se sentir bem consigo mesma, ela sente raiva quando outros se destacam mais do que ela, apresentando inveja até dos filhos; 
• Trata os outros superiormente: naturalmente arrogante, a pessoa narcisista utiliza das interações com o outro para se autovangloriar, é presunçosa e está sempre subestimando a inteligência alheia; 
• Autoestima frágil: é extremamente fácil ferir os sentimentos de uma mãe narcisista, mesmo que a própria não exponha. Luta pelo reconhecimento tentando suprir a falta de amor-próprio; 
• Não tem empatia: são incapazes de se identificarem com o sofrimento alheio de forma genuína. Uma vez que são egocêntricas e egoístas, as mãe narcisistas recusam-se a reconhecer quando alguém, como os filhos, precisa de ajuda emocional. Essa caraterística também faz com que a mãe ignore a dor dos filhos e se dedique somente a atender às suas próprias necessidades e carências;
• Não pede desculpas: por ser a dona da verdade e acreditar que suas ideias são incontestáveis, ela não admite a culpa e nem pede desculpas quando magoa e trata os outros de forma imprópria; 
• Distanciamento emocional: por somente reconhecer a validade dos próprios sentimentos, ela se recusa a se envolver com as emoções alheias, o que impede que a mãe crie uma conexão afetiva genuína com as pessoas, incluindo com os filhos; 
• Vive de aparências: para compensar a autoestima frágil, a falta de amor-próprio e falta de identidade, a mulher apresenta uma preocupação exagerada com a aparência física; 
• Perfeccionista: a mãe narcisista se enxerga como um padrão de excelência e não aceita erros. Por ter uma autoestima frágil, ela precisa ser bajulada constantemente pelas pessoas ao seu redor; 
• Problemas de identidade: a grandiosidade provocada pelo transtorno de personalidade narcisista ocorre devido à angústia e ao sentimento de vazio que a mãe carrega. Por não conseguir se amar, ela busca estímulos externos para compensar a falta de conteúdo. Nesse sentido, a mãe tende a se espelhar no estilo e na atitude dos outros, como os da própria filha. 

Além das caraterísticas, é possível observar que o relacionamento entre uma mãe com personalidade narcisista é marcado por discussões e brigas — normalmente por motivos fúteis, dificultando uma convivência saudável. É comum que a mãe faça provocações para haver reação negativamente, criando assim uma situação de vitimização.

Ressalta-se que pessoas narcisistas provêm normalmente de famílias disfuncionais. Uma criança criada por uma mãe narcisista, invariavelmente, pode se tornar narcisista no futuro e perpetuar o comportamento para as próximas gerações.  

Como as mães narcisistas afetam o psicológico dos filhos?

Os filhos de mães com transtorno de personalidade narcisista crescem normalmente num contexto familiar de desamparo e manipulação, alvos de comportamentos abusivos das mães. São constantemente criticados e têm seus sentimentos e opiniões invalidados pela figura materna, que não tende a comemorar suas conquistas e pode até invejá-las. 

Por esse motivo, os filhos tendem a ser pessoas com pouca autonomia e com baixa autoestima, prejudicando diretamente seus relacionamentos. Além disso, também sentirão insegurança para tomar as próprias decisões, ficando totalmente dependentes da mãe. 

Para filhas mulheres, o narcisismo materno pode ser ainda mais prejudicial. O principal fator desse relacionamento é que, para a mãe, a filha nada mais é do que uma rival.

As filhas, ao tentarem agradar às mães, costumam apresentar dificuldade para reconhecer os próprios méritos e conquistas, sentem-se mais ansiosas que o comum e podem ter dificuldades para manter relacionamentos.  

Existe tratamento para o narcisismo materno? 

De acordo com Mônica, transtornos de personalidade não costumam ter um tratamento específico ou medicamentoso. O melhor caminho a seguir é a psicoterapia. Contudo, para a mãe, realizar a terapia implica reconhecer o próprio transtorno — o que, segundo a especialista, é algo muito difícil de acontecer.